quarta-feira, 16 de julho de 2008

PSICOLOGIA HUMANISTA

Com o propósito de uma apresentação da teoria Humanista de Carl Rogers,
foram levantados alguns pontos divergentes e convergentes com as teorias
de Skinner e Freud, e com isso pode-se perceber com mais clareza, o
quanto estes três teóricos trouxeram contribuições significativas para a
Psicologia. Segundo Milhollan e Forisha (1978), o Humanismo tem sua base
na Filosofia, ciência “mãe” da Psicologia, é uma doutrina ou atitude que
se situa expressamente numa perspectiva antropocêntrica, em domínios e
níveis diversos, assumindo com maior ou menor radicalismo as
conseqüências daí decorrentes, manifestando-se o Humanismo nos domínios
da lógica e da ética. No aspecto lógico aplica-se às doutrinas que
afirmam que a verdade ou a falsidade de um conhecimento se definem em
função da sua fecundidade e eficácia relativamente à ação humana; no
aspecto ético, aplica-se àquelas doutrinas que afirmam ser o homem o
criador dos valores morais, que se definem à partir das exigências
concretas, psicológicas, históricas, econômicas e sociais que
condicionam a vida humana. Essa capacidade do homem é que o torna capaz
de modificar seu auto-conceito, suas atitudes e seu comportamento auto
dirigido e que para mobilizar esses recursos basta proporcionar um clima
de atitudes psicológicas facilitadoras, passíveis de definição. Dessa
forma ele tira o “poder” das mãos do terapeuta o coloca nas mãos do
próprio cliente (Rogers, 1977). Para compreendermos melhor como se dá
esse processo, buscou-se descobrir o nível de distanciamento e
aproximação existente entre os três grandes ramos da Psicologia: a
Psicanálise, o Behaviorismo e o Humanismo.


Abordagem Centrada na Pessoa:


Rogers (1977, pg. 31), firmou-se em seis passos para fundamentar essa
abordagem:


Em primeiro lugar, devido a experiências difíceis e frustrantes vividas
por Rogers, na utilização das técnicas usuais na época, ele mudou sua
forma de atendimento, passando a apenas ouvir de maneira compreensiva o
cliente tentando transmitir-lhe esta compreensão, o que ele considerou
ser uma força poderosa na mudança terapêutica da pessoa.
*


Em segundo lugar, ele percebeu que a atenção empática constituía uma das
janelas menos nubladas de acesso ao funcionamento do psiquismo humano,
em todo o seu complexo mistério.
*


Em terceiro lugar, a partir das observações faz-se inferências simples e
formulação de hipóteses testáveis.
*


Em quarto lugar, testando tais hipóteses houve descobertas sobre as
pessoas e as relações interpessoais, cujos dados e teorias levantados,
mudavam à medida que surgiam novas descobertas, num processo dinâmico
que continua até este exato e preciso momento.
*


Em quinto lugar, Roger descobriu que os aspectos básicos que propicia
mudanças nas relações interpessoais de cada indivíduo, era inerente à
própria pessoa. Através de dados obtidos em diversas experiências que
realizou, ele chegou à conclusão de que esses aspectos eram de ampla
aplicabilidade, podendo promover ou destruir mudanças auto dirigidas,
quando liberados.
*


Em sexto lugar, as situações abrangem pessoas, mudanças em seu
comportamento e efeitos de diferentes tipos de relações interpessoais
estão presentes em quase todos os empreendimentos humanos, o que para
Rogers significou que sua abordagem poderia ter uma aplicação universal.
Para ele, essa abrangência da sua abordagem é que pode explicar a sua
espantosa disseminação.


A partir dos seis passos acima, é possível verificar que, sendo o homem
considerado como um todo, um ser biopsicossocial, tudo o que envolve sua
vida, seus sentimentos, crenças e, sendo esse ativo, ele é produto e
produtor da sua história, sendo também considerado por este motivo, o
momento cultural em que está inserido. Optar pela filosofia humanística,
significa chegar às mudanças sociais a partir do desejo humano de
mudança e da potencialidade para realizá-la, e não a partir do
condicionamento, o que resulta numa filosofia política profundamente
democrática, ao invés da administração a cargo de uma elite, e
obviamente essa postura traz conseqüências, por ser “revolucionária”.
(Millollan e Forisha, 1978)


Foi em 1940 que Carl Rogers fez a primeira tentativa de cristalizar por
escrito alguns dos princípios e das técnicas de um novo método em
terapia, um método que foi rapidamente rotulado de “consulta psicológica
não diretiva”. Dois anos mais tarde foi publicado “Couseling and
Psycotherapy: New Concepts in Practice”. Neste volume era exposta a
prática dos princípios utilizados no domínio da consulta psicológica
cuja finalidade era libertar as capacidades individuais de integração.


A construção teórica de Rogers gira em torno da construção do “eu”, de
suas relações, interações, capacidades, habilidades etc. Acreditando por
constatação, que o homem é capaz de lidar consigo mesmo, com sua
situação psicológica, com auto compreensão e auto direção inteligente, é
que o psicoterapeuta que se utiliza dessa abordagem é um profissional
“facilitador” para que o cliente tenha seus sentimentos reelaborados,
levando-o a um crescimento contínuo.


Trinta e sete anos após Rogers ter falado isso pela primeira vez, e
provocado um alvoroço, ele faz uma avaliação do quanto fora ousado, pois
isso era exatamente o oposto de tudo na época, mas que o tempo se
encarregou de mostrar como essa “política” foi tão melhor sustentada
empiricamente ao longo dos anos. O tempo fortaleceu sua posição e seus
pressupostos ganharam cada vez mais, maiores números de adeptos. Rogers
descreve seu pressuposto como: “a hipótese gradualmente formada e
testada de que o indivíduo tem dentro de si amplos recursos para
autocompreensão, para alterar seu conceito, suas atitudes e seu
comportamento autodirigido – e que esses recursos só podem emergir se
lhe for fornecido um determinado clima de atitudes psicológicas
facilitadoras” (Rogers, 1983).


Para Rogers (1975) há no homem uma tendência natural para o crescimento,
o que ele chamou de Tendência Atualizante , que o leva naturalmente ao
desenvolvimento completo, e que está presente em todos os organismos
vivos. Essa é a pedra fundamental na qual se apóia a Abordagem Centrada
na Pessoa. Essa Tendência pode ser impedida, mas não pode ser destruída
sem que se destrua o organismo. Ele cita como exemplo, plantas que nas
condições mais adversas, buscam uma fresta de luz, na direção da qual
crescem mesmo que isso a deforme. Qual é o clima que pode favorecer um
indivíduo que por diversos motivos viveu em ambientes que de certa forma
lhe distorceram o comportamento? Há três elementos chaves para que isso
possa acontecer:


• Congruência – ou seja, autenticidade absoluta da parte do terapeuta
para com o cliente. O terapeuta deve ser ele mesmo, sem “fachada” de
profissional. O termo transparência dá um maior significado a esse
conceito. O terapeuta deve expressar completamente seus sentimentos
positivos, sejam de compaixão, compreensão, como também seus sentimentos
negativos, como medo, e nunca suas opiniões ou julgamentos sobre o
cliente. Quando o cliente percebe que o terapeuta se dá o direito de ser
autêntico, ele pode descobrir essa mesma liberdade.


• Aceitação Incondicional – O terapeuta deve mostrar uma atitude de
aceitação que permita ao cliente vivenciar qualquer sentimento. Isso
exige o não envolvimento do julgamento e da manipulação, ou do rotular o
cliente. Quando isso flui de uma maneira natural a probabilidade de
sucesso no processo terapêutico é maior. O terapeuta não pode encarar
isso como uma obrigação, deve fazer parte do seu processo de
relacionamento com as pessoas, principalmente com o cliente.


• Compreensão empática – O terapeuta “entra” no campo fenomenal do
cliente, sente seus sentimentos, e procura entender seus significados
pessoais como estão sendo vivenciados pelo cliente. Ser empático não é
uma técnica, é uma atitude desenvolvida ao longo da vida da pessoa, que
leva o terapeuta a vivenciar o mundo interno do indivíduo para ajudá-lo
a expressar o que está sentindo, não pensar “pelo” cliente e sim “com” o
cliente.


À medida que o cliente sente que existe um momento, e uma pessoa, que
acredita nele, o aceita, o escuta com atenção, o aprecia, ele se torna
mais capaz de abandonar suas fachadas e se mostrar mais claramente como
realmente é. Ao se ouvir, o cliente começa a se entender, muda suas
percepções, e o poder que os outros tinham sobre ele começa a diminuir e
ele passa a ter mais controle sobre si mesmo. Quanto mais aberta ao
próprio crescimento, a pessoa se sente mais segura, menos defensiva, e
mais propensa a crescer e mudar em direção ao seu desenvolvimento. Este
tem que ser um processo natural na vida do cliente, sem que o terapeuta
o direcione, o sugestione. O poder é do cliente e não do terapeuta, esse
só deve criar o clima favorável para que esta capacidade interna do
cliente se manifeste.(Rogers, 1961)


FREUD, ROGERS E SKINNER


• Pontos divergentes e convergentes entre as três teorias


Rogers surgiu numa época de grandes divergências entre as correntes da
Psicologia. Havia uma grande discordância entre os diversos segmentos,
mais fortemente em dois deles: a linha psicanalítica e a linha
experimentalista. Rogers se contrapõe mais diretamente à teoria
skineriana, que parecia reduzir o homem a uma visão mecânica e
reducionista. No entanto Rogers no decorrer de seus estudos soube
aproveitar muito da teoria de Skinner. (Milhollan e Forisha, 1978)


Um dos pontos mais divergentes entre a teoria psicanalítica, o
behaviorismo e a Abordagem Centrada na Pessoa é no que diz respeito à
natureza humana, ou seja, a concepção de homem, a visão e a percepção
que o terapeuta possui, e com que visão este profissional conduzirá seu
trabalho. Outro ponto que deve ser considerado é o processo experiencial
e o contexto sociocultural e histórico de cada teórico.


Freud foi o criador da Psicanálise, além de influenciar várias áreas do
conhecimento, viveu metade de sua vida durante o século passado e quase
quatro décadas deste século, o que proporcionou uma outra visão do
mundo, e ainda, sempre foi discriminado e por fim perseguido na Segunda
Guerra, devido sua origem judaica. Sua época foi marcada pela
austeridade social, onde a mulher era confinada ao seu papel de esposa e
mãe, sem direitos políticos e sociais, seu papel era de procriadora e
mantenedora do lar. As mulheres que se aventuravam a qualquer coisa que
fosse além disso, eram mal vistas pela sociedade castradora e austera
vigente.


Skinner foi contemporâneo de Rogers, mas sua visão de homem era
basicamente científica, e a partir dos estudos experimentalistas que já
existiam, ele estruturou e sistematizou a causalidade entre a formação
do comportamento e os estímulos ambientais. Skinner se contrapunha
diretamente à escola psicanalítica. Rogers viveu durante este século
recebendo uma educação afetiva, apesar de ser rígida, fundamentada na
religião cristã, da qual ele se desvinculou mais tarde. Participou dos
conflitos sociais nos anos 60, os quais trouxeram muitas mudanças
sociais. Ele iniciou seu trabalho como psicólogo no momento em que os
profissionais da época se dividiam entre o método psicanalítico e o
comportamental, ele se opõe aos dois e inicia uma forma própria e
peculiar na sua forma de atendimento, que foi chamada de “não-diretiva”
e que se constitui na terceira força da Psicologia.


Freud via a pulsão de vida e a pulsão de morte, como faces da mesma
moeda, dando a Eros e Tânatos o mesmo peso (Laplanche, 1998). Para ele,
o homem é possuidor de um permanente conflito entre forças antagônicas
existentes em seu interior. O Id totalmente inconsciente, faz tudo o que
é possível para atingir seus objetivos, ou seja, livrar-se da pressão de
energia das quais é o próprio produtor e reservatório. O Ego tenta a
todo custo servir de mediador entre as exigências do Id e as exigências
da realidade externa. O Superego, o aliado da cultura, na perpetuação
das normas e dos valores sociais. Para Freud a natureza humana é
determinada, sobretudo, pelas pulsões e forças irracionais, oriundas, do
inconsciente; pela busca de um equilíbrio homeostático; e pelas
experiências vividas na primeira infância. Em uma de suas conferências,
Freud fala da vileza, egoísta da natureza humana e o fato de que o homem
não é muito digno de confiança no que se refere à sua sexualidade e seus
desejos reprimidos, que vinham à tona de várias formas, uma delas
através de atitudes de agressividade. Pontuou ainda sobre a guerra que
devastou a Europa, dando a entender que tanta destruição não poderia ser
desencadeada por uns poucos homens ambiciosos e sem princípios, se essas
tendências destrutivas não existissem na maior parte da humanidade. A
sociedade se vale de tanta hostilidade, e ainda precisa fazer uso da
coerção, porque o organismo do homem era grandemente dominado pelas
pulsões destrutivas, predominando a hostilidade o que facilita a coerção
social, como elemento coibidor deste aspecto tão forte de sua natureza.


“Até o início da idade adulta, na maioria das sociedades, o Id terá sido
domesticado. Quando não o é, o indivíduo costuma ser considerado muito
especial, louco, mal, sagrado, ou qualquer combinação dos quatro.”
(Kline, 1988) Toda obra de Freud tem afirmações sobre o pessimismo com
relação ao homem, quer quando se refere ao “princípio do prazer” quer
quando se refere a repressão necessária para suplantar a marcante
hostilidade presente, em cada um de nós. Mas, ao que parece, ao longo de
sua história, Freud reformulou alguns dos seus pontos de vista, passando
a enfatizar também outros aspectos do homem. “Por fim veio a reflexão de
que, afinal de contas, não se tem o direito de desesperar por não ver
confirmadas as próprias expectativas; deve-se fazer uma revisão dessas
expectativas” [1]


Diferentemente da teoria Psicanalítica, Rogers destaca a grande
confiança que sente pelo homem. Essa confiança é baseada, através de
experiências clínicas e comunitárias, resultados de pesquisas realizadas
por ele e por seus colaboradores, em várias partes do mundo. Ele
assinala que: “Acabei por me convencer de que quanto mais um indivíduo é
compreendido e aceito, maior sua tendência para abandonar as falsas
defesas que empregou para enfrentar a vida, maior sua tendência para se
mover para a frente”. (Rogers 1961, pg.31). Se o homem não possui lesões
ou conflitos estruturais profundos, apresenta essa capacidade, o que é
uma característica inerente ao homem que não depende do processo de
aprendizagem, mas sim de uma estrutura da qual participou, num clima de
calor humano, sem ameaçar ou desafiar a imagem que a pessoa faz de si
mesma. Quanto mais livre o homem for, para tornar-se o que ele é no mais
fundo do seu ser, para agir conforme sua natureza, como um ser capaz de
perceber as coisas que os cercam, então ele, nitidamente, se encaminha
para a interação e integração de si mesmo. Somente um ser consciente
será capaz de libertar-se, o que chega a um ponto de impasse,
dividindo-o. Isso ocorre devido a massificação da nossa cultura, que
provoca a total alienação, que “de-forma” perspicaz, recalca os mais
nobres dos nossos sentimentos como: o amor, a confiança e a bondade,
juntamente com outros impulsos, socialmente proibidos. Desta forma,
Rogers não acredita que, uma vez liberada a camada mais profunda da
natureza humana, nos depararíamos com um Id incontrolável e destrutivo.


A Abordagem Centrada na Pessoa, considera a Tendência Atualizante como
uma motivação polimorfa, ou seja, esta tendência pode trazer várias
formas, de acordo, com as necessidades presentes no organismo.
Discordando das teorias que tratam de motivação sobre um prisma
biológico, do qual o organismo procura reduzir suas tensões e
restabelecer um estado de equilíbrio. Rogers acredita que os organismos
estão sempre em busca de um “vir a ser”, pois no seu entendimento,
somente um organismo doente, mantém-se num equilíbrio passivo. O
organismo sempre está em busca de algo, e isso é a fonte de energia que
fez parte da função do sistema como um todo para a auto-realização e
plenitude, que abrange não só a manutenção, mas também o crescimento.


Para Rogers, o homem preconizado por Freud, não é, socialmente falando,
muito digno de confiança, com uma postura negativista. Para ele é
exatamente o inverso, pois acredita que é justamente em um contexto
coercitivo, onde o homem não pode expandir-se e atualizar seu potencial,
que o leva a tornar-se hostil ou anti-social. Caso contrário, nada temos
a temer, pois, seu comportamento tenderá a ser construtivo, “...será
individualizado, mas também será socializado”


Skinner caracteriza sua epistemologia como Behaviorista Radical,
apontando aspectos que distinguem sua versão comportamental em
Psicologia do Behaviorismo Metodológico, que não considerava os
conteúdos internos do indivíduo, enquanto que para ele os comportamentos
privados eram tão importantes quanto os comportamentos públicos,
observáveis, e dessa forma sua obra se torna muito mais completa do que
a de seus antecessores. Para ele, todo indivíduo tem dois tipos de
comportamento: “sob a pele” – que são os comportamentos privados, aos
quais, apenas o indivíduo tem acesso e “sobre a pele” – que são os
eventos públicos, passíveis de serem observados por qualquer pessoa.


Segundo Milhollan e Forisha (1978), Skinner via a realidade como algo
objetivo, dedutível de forma lógica. O homem é um produto do meio, em
função das contingências ambientais em que vive, a “comunidade verbal”,
é quem dá significado a tudo que vivencia, ou seja, o que é ensinado
para a criança desde a mais tenra idade é o que vai direcionar seu
comportamento, suas crenças, seus ideais, etc. Para o Behaviorismo
Radical, o processo terapêutico se dá mediante a análise de
contingências, reforço positivo e conseqüentemente através de “auto
regras”, que será a mudança de visão que o homem imporá a si mesmo
quando consciente da sua necessidade de mudar seu próprio comportamento.
Isso é o que Skinner denominou de “comportamento operante”, que é a
capacidade do homem de agir apesar das contingências ambientais, dentro
do processo terapêutico. Mas de forma geral, o indivíduo não tem
liberdade de escolha, ele age em função dos estímulos ambientais e suas
respostas (comportamentos) a estes estímulos, podem gerar conseqüências
que serão reforçadores negativos ou positivos, levando a um aumento ou
diminuição dessas respostas, ou que podem ser punitivas, o que
provocaria a extinção das mesmas. Segundo essa premissa, desde que haja
um determinado controle ambiental, obtém-se do indivíduo as respostas (o
comportamento) desejadas.


Rogers também se opõe à orientação de Skinner, que defendia a idéia que
o homem não é livre, e não aceitava que a vida da sociedade iria
constituir-se em controle e manipulação das pessoas, ainda que isso
fosse feito para torná-las mais felizes, pois o homem é o arquiteto de
si, assim, o papel que desempenha o subjetivo não deve ser minimizado
(Millhollan, Forisha, 1978).


Conclusão


Não podemos negar a importância de cada um deles, a Psicanálise
trouxe-nos o entendimento do homem a partir do seu passado, dos desejos
reprimidos (Id), das regras introjetadas (Superego) e de como o Ego se
estrutura na equilibração dessas duas forças antagônicas, além dessas
contribuições, descortinou diante de nós a dinâmica do inconsciente com
os seus vários mecanismos de defesa. O Behaviorismo contribuiu desde o
início, mesmo com seus experimentos mais fugazes até culminar com o
Behaviorismo Radical de Skinner, que sistematizou o que já havia sido
feito, de forma lógica e coerente explicando a formação do
comportamento, a partir dos estímulos ambientais. Sua metodologia
terapêutica é de natureza diretiva e intervencionista, e quando aplicada
a pacientes com determinados tipos de transtornos, mostra resultados
mais rapidamente, como nos casos de autismo, bulimia, aneroxia, auto
injúria e outros. Totalmente contrário das duas anteriores é a Abordagem
Centrada na Pessoa, primeiramente na sua visão positiva do homem, e
depois na sua metodologia que contrariava todos os direcionamentos que
até então havia entre os que estudavam Psicologia. Rogers a princípio
não se preocupou em sistematizar sua teoria, o que só foi fazer anos
mais tarde, quando sua forma de atuar já era amplamente difundida. Sua
atuação fundamenta-se na somente na fala do cliente e de como ele
elabora essa fala, o papel do terapeuta será o de aceitar essa fala sem
efetuar qualquer tipo de julgamento, pressão ou cobrança, e assim, o
cliente tenderá por si mesmo ao crescimento saudável. O cliente dirige a
sessão, o terapeuta apenas conduz, ou seja, o poder de mudança está no
próprio cliente e o terapeuta será apenas um agente facilitador desse
processo. A Abordagem Centrada na Pessoa foi uma técnica utilizada além
das fronteiras do consultório e se estendeu para diversas áreas do
relacionamento humano.


Não resta dúvida de que a história de vida das pessoas e a maneira como
a vivenciaram, podem influenciar no modo como se conduzem socialmente.
Os próprios autores, em questão, foram influenciados por suas histórias,
ao desenvolverem um ponto de vista sobre um mesmo assunto. No entanto,
acreditamos que as três teorias trouxeram contribuições significativas
não só para o campo da Psicologia, como também para toda a humanidade.
Segue abaixo um quadro evidenciando as características dos três
teóricos:


FREUD


• Nasceu em 1856 em Freiburg Slováquia.


• Morreu em 1939.


• Filho de pais judeus perseguido pelo nazismo.


• Sofreu discriminação durante as duas guerras mundiais.


• Iniciou seus estudos quando o meio acadêmico buscava consolidar as
mais variadas hipóteses sobre o comportamento humano.


• Desvendou os mistérios do inconsciente, e foi o primeiro a
relacionar as neuroses à sexualidade infantil.


• Considerado o Pai da Psicanálise, e sua teoria sobre Ego, Id e
Superego, permanece imbatível.


PERCEPÇÃO DE HOMEM


Para ele o homem é um ser dividido entre seus desejos de vida e
morte.


Obra marcada por um certo ceticismo, sendo a natureza humana
determinada por forças irracionais.


Acreditava que a sociedade civilizada estava ameaçada pela
desintegração, devido à hostilidade primária dos homens entre si,
e a cultura devendo recorrer a todo reforço possível a fim de
erigir uma barreira contra o instinto.


Para ele, o homem é possuidor de um conflito permanente e
antagônico, existente em seu interior, no qual o Ego tenta ser o
mediador para encontrar o equilíbrio.


ROGERS


• Nasceu em 1902 em Oak Park, Illinois, USA.


• Morreu em 1987.


• Filho de pais dedicados porém rígidos na educação dos filhos e
na religião.


• Viveu numa época marcada pelas mudanças sociais dos anos 60, como
a liberação sexual, o movimento hippye, etc.


• Iniciou seus estudos em plena discussão sobre a Psicanálise e o
método experimental, não gostou de nenhum dos dois.


• Inovou na sua forma de atendimento terapêutico quando percebeu que
o cliente queria ser ouvido. Passou a usar o método chamado de
não-diretivo.


• Criou a ACP – Abordagem Centrada na Pessoa


PERCEPÇÃO DE HOMEM


O homem é um ser subjetivo e experiencía cada acontecimento de
forma única e pessoal.


Tem plena confiança na capacidade de desenvolvimento do homem, de
seu crescimento, de se compreender, e resolver seus próprios
problemas, desde que haja no seu ambiente condições favoráveis
para que isso ocorra.


Acredita que o homem tem uma capacidade realizadora que ele chamou
de Tendência Atualizante, que o capacita ao crescimento.


O homem é possuidor de uma motivação que pode levá-lo em várias
direções, de várias formas. Essa motivação só não deve ser abafada,
para não distorcer o seu crescimento.


SKINNER


• Nasceu em 1904 em Susquehanna, USA.


• Morreu em 1990.


• Filho mais velho de Willian Skinner e Madge Burrhus.


• Viveu numa época marcada pelas mudanças sociais dos anos 60,
como a liberação sexual, o movimento hippye, etc.


• Iniciou seus estudos científicos fundamentado no método
experimental.


• Aperfeiçoou este método, criando a AEC – Análise Experimental do
Comportamento, que sistematizou o conhecimento existente sobre
estímulo-resposta.


• Sua metodologia que foi chamada de Behaviorismo Radical.


PERCEPÇÃO DE HOMEM


Sua visão de homem é objetiva. Todo ser é produto do meio em que
vive.


O homem não tem liberdade de escolha, ele dá significado às coisas
de acordo com que lhe é ensinado pela comunidade verbal. As
contingências ambientais determinam o comportamento do indivíduo,
e se baseiam em três aspectos:


O histórico filogenético


O histórico ontogenético


O ambiente


As alterações no comportamento se dão através do Reforçamento
Positivo, Negativo ou da Punição. O comportamento operante
significa a alteração das contingências a fim de modificar o
homem.


BIBLIOGRAFIA


Gusmão, Sonia M. L., A natureza humana segundo Freud e Rogers, Texto
apresentado no Fórum Brasileiro da ACP no Rio de Janeiro; 1996.


Freud, S., O mal estar na civilização in Os grandes pensadores, 1º
Ed.São Paulo: Abril, 1994


Kline, P., Psicologia e teoria Freudiana, 1 a . ed.; Rio de Janeiro:
Imago, 1988


Laplanche, J., Vocabulário da psicanálise , 3º ed. São Paulo:Martins
Fontes,1998


Millhollan, F, Forisha, F. A. Skinner X Rogers: Maneiras contrastantes
de encarar a educação, 3º ed. São Paulo: Sumus editorial, 1978


Morato, Henriette. Aconselhamento Psicológico Centrado na Pessoa: Novos
desafios. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1999


Rogers, Carl R.Psicoterapia e Relações Humanas. Vol. I. 1º ed. São
Paulo: Interlivros, 1975


Rogers, Carl R. A pessoa como centro. São Paulo: EPU, 1977


Rogers, Carl R. Sobre o poder pessoal. 1º ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1978


Rogers, Carl R. Grupos de Encontro. 5º ed. São Paulo: Martins Fontes,
1983


Rogers, Carl R. Um jeito de ser. São Paulo: EPU, 1983


Roger, Carl R. Tornar-se Pessoa, 5 a . ed.; São Paulo: Martins Fontes,
1997


Freud, Sigmund: A história do Movimento Psicanalítico in Os
pensadores(Pg. 47), Ed. Abril Cultural, 1978


[ Tornar-se pessoa, hoje!.txt ]
Tornar-se pessoa, hoje!


Emanuelle Coelho Silva ( ecoelho_si...@hotmail.com )


*Texto escrito em fevereiro de 2006.


Vivemos num mundo onde a máxima é aquela expressa nos outdoors,
nas grandes propagandas veiculadas pela televisão e mesmo pela
internet: "seja magro", "seja forte", "lute pelos seus ideais",
"faça inglês", "seja o homem do século XXI" seja a qualquer
custo!


Mas o que nos custa este SER contemporâneo, este novo ser? Esses
slogans que nos remetemos e nos intimamos a seguir, não são
“obrigatoriedades” para homem atual, mas já vêem de outras épocas
humanas, onde outros modelos eram requeridos, mas a máxima era a mesma
SEJA, mas seja aquele que eu lhe digo ser, aquele que atende o meu ser.
Talvez possamos até nos remeter a Nietzsche, que em seu célebre
trabalho "Assim falou Zaratustra", já nos dizia tão bem sobre esse
"super-homem" a que estamos ligados.


Mas o que nos torna seres humanos realmente? O que nos torna
pessoa hoje? Como? O que? Quando? Quanto? A que custo?


Tornar-se pessoa não é tarefa simples, não é apenas abdicar das
ofertas hi-tech do século XXI, nem tão pouco fingir que elas não
existem. Tornar-se pessoa passa pelo íntimo do ser, é preciso
mergulhar em si mesmo, verificar e presenciar o caos do EU para
depois lançar-se fora e unir-se ao que foi quebrado. Novamente,
pensando nas palavras de Nietzsche pra ilustrar, "É preciso ter
um caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante".


Nesta tentativa de tornar-se pessoa, por vezes nos perdemos em
rótulos, estigmas e exigências de uma sociedade marcada pela
estética e pela aparência. A essência é perdida e por vezes nos
vemos tão perdidos quanto. Nessa longa caminhada, Nietzsche, em
"Assim Falou Zaratustra" retrata o sofrimento, o caos e a luta
interna (e até mesmo externa) que desbravamos para alcançar a
nossa própria verdade, nossa essência, o EU enfim. É preciso
ressaltar que a verdade aqui, é a verdade interna, é a verdade
de cada um, é o eu-pessoa.


O que é a existência senão a luta por descobrir o que somos e
para onde iremos, em nossa longa jornada? De que certezas têm o
homem senão de seu próprio fim? Que mudanças este homem pode
procurar, ou mesmo se permitir para encontrar essa pessoa que
está dentro dela, pedindo para sair?


Ser humano é demasiado complexo e por vezes penoso. Mas é sempre
a partir dessas provações (e até provocações), que as verdades,
individuais são transmutadas, mudadas e moldadas, levando a
plenitude do EU, a plenitude do ser e a volta do tornar-se
pessoa. Conhecer-se, compreender-se, aceitar-se e novamente
conhecer-se é o que realmente nos torna pessoa.


Esse caminho que é percorrido em busca de tornar-se realmente
pessoa, é por vezes dolorido, uma vez, que nos vemos frente à
verdades que parecem insuportáveis, mas são esses momentos em
que a real pessoa torna a vir, deixa os rótulos, as exigências,
os slogans e é apenas SER. Um músico americano, Jim Morrisson,
soube bem retratar essa angústia da existência e essa procura
por si mesmo, a briga com o tempo, com a imagem, dizendo em
trecho de sua poesia:


(...) Desista de seus votos, desista de seus votos


Salve a nossa cidade, salve a nossa cidade


Agora mesmo


(...) O futuro é incerto e o fim está sempre perto. (...)


Não é possível encontrar-se sem perder-se, e esse processo é
doloroso, mas engrandecedor, revelador. É a descoberta da tomada
de consciência livre de ser humano. É o momento de encontro com
si mesmo.


“Uma pessoa que está mais aberta a todos os elementos de sua
experiência orgânica; uma pessoa que está desenvolvendo uma
confiança em seu próprio organismo como instrumento de vida
sensível; uma pessoa que aceita o foco da avaliação como
residindo dentro de si mesmo; uma pessoa que está aprendendo a
viver em sua vida como um participante em um processo fluido,
continuo, em que está constantemente descobrindo novos aspectos
de si mesmo no fluxo de sua experiência. Esses são alguns dos
elementos que e parecem estar envolvidos em tornar-se pessoa.” (Carl
Rogers, 1995: 140)


Bibliografia consultada


BOAINAIM, Elias. Tornar-se Transpessoal: Transcendência e
Espiritualidade na obra de Carl Rogers. Summus Editorial, 1998.
p. 23-41: A psicologia Humanista.


GUSMAO, Sonia Maria Lima de. A natureza humana segundo Freud e
Rogers. João Pessoa: 1196.


NIETZSCHE, Friedrich. Assim Falou Zaratustra. Tradução Alex
Marins. Editora São Paulo: Martin Claret, 2005.


ROGERS, Carl. Tornar-se Pessoa. Tradução Manuel Jose do Carmo
Ferreira e Alvamar Lamparelli. São Paulo: Martins Fontes, 1995


Centro de Estudos e Encontro da Abordagem Centrada na Pessoa

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